Se sim (ou se pensa em fazer), chegou a considerar os riscos à sua privacidade e à proteção dos seus dados pessoais? Vem comigo!
Ao transformar uma selfie ou uma foto de família em um personagem de anime ou do Studio Ghibli, você sabe o que está entregando em troca?
“Nada, a ferramenta é gratis :D”.
Será? No mundo dos dados pessoais, quando algum produto ou serviço é gratis, geralmente o pagamento é você…
A popularização de ferramentas de inteligência artificial (IA) como o ChatGPT, DALL·E e Midjourney criou uma febre nas redes sociais: a personalização de imagens em estilos artísticos famosos, como os do Studio Ghibli ou de bonecos colecionáveis estilo Funko Pop. Essas criações impressionam pela criatividade e apelo visual, mas também levantam uma bandeira vermelha sobre riscos reais à privacidade e à proteção de dados pessoais.
O que é a trend das imagens em estilo Ghibli e bonecos colecionáveis?
Trata-se de uma moda digital na qual pessoas usam IA para gerar imagens estilizadas a partir de suas próprias fotos. Basta fazer upload de uma selfie e a IA transforma o rosto num personagem de anime, numa criatura mística ou num brinquedo fofo. O conteúdo é então compartilhado em massa nas redes sociais, aumentando o engajamento e a visibilidade de quem participa.

De acordo com a CNN Brasil, o ChatGpt ganhou 1 milhão de usuários em 1 hora graças à trend! Incrível, não é? O criador do Studio Ghibli tem uma opinião um pouco diferente…
Hayao Miyazaki, o lendário fundador do Studio Ghibli, já havia se posicionado contra o uso de inteligência artificial na criação artística, descrevendo-o como “um insulto à vida” em 2016.
“Estou completamente enojado”, ele diz no vídeo, respondendo a um vídeo de um personagem monstro gerado usando prompts de texto. (CNN BRASIL)
Os riscos invisíveis: o que está por trás da imagem fofa?

Por mais lúdico que pareça, o uso de dados biométricos — como sua imagem facial — para treinar algoritmos de IA traz implicações importantes em termos de privacidade:
- Uso indevido da imagem: ao fazer upload da sua foto, muitas vezes você está concordando com termos de uso amplos que permitem que sua imagem seja usada para fins comerciais, publicitários ou de treinamento de IA sem controle posterior.
- Vazamento e revenda de dados: a partir da sua foto é possível coletar diversos dados pessoais, em especial se a foto mostra lugares como seu trabalho, seu endereço ou a escolha do seu filho… Se a plataforma não estiver em conformidade com a LGPD, há risco de que essas informações sejam armazenadas sem critério, acessadas por terceiros ou revendidas.
- Risco de deepfakes: rostos reais usados para gerar imagens podem alimentar bases de dados que servem à criação de conteúdo enganoso, como vídeos falsos com sua aparência.
- Falta de transparência: muitas plataformas não informam com clareza como os dados são tratados, nem garantem (ou melhor, asseguram) que a exclusão da imagem original será respeitada.
Como participar da trend com mais segurança?
Não é preciso abandonar a criatividade, mas é possível equilibrar diversão e responsabilidade digital:
- Leia os termos de uso: verifique se a plataforma informa claramente sobre como sua imagem será utilizada. Dica: eu sei, eu sei, ninguém lê os termos de uso de nada, mas a IA pode ler para você! Coloque o link em alguma IA e peça para ela informar quais os usos de dados e como o tratamento pode impactar sua privacidade, além de quais os riscos você corre ao colocar suas informações na plataforma.
- Evite usar dados sensíveis: não inclua informações que possam identificar diretamente sua localização, documentos ou familiares.
- Prefira ferramentas com foco em privacidade: escolha serviços que ofereçam controle sobre seus dados, como exclusão das imagens após uso e políticas de não compartilhamento com terceiros.
- Crie imagens com avatares genéricos: em vez de usar sua foto real, use ilustrações ou criações que não revelem diretamente sua identidade ou dê características genéricas, como mulher de cabelo castanho curto usando óculos.
- Implemente medidas organizacionais e técnicas se for usar isso em um projeto comercial: se sua empresa pretende surfar nessa trend, é importante mapear os riscos e realizar uma avaliação de impacto à proteção de dados (RIPD).
Transformar tendências digitais em oportunidades criativas é uma característica do nosso tempo. Mas, como em toda inovação, a consciência sobre os impactos e riscos associados é o que assegura uma jornada mais segura — tanto para indivíduos quanto para empresas.
A matéria que citei da BBC: